22.10.06

.un, deux, trois.

por Pedro Câmara.

8.10.06

.sobre Marcelo Quadros.

por Aline Cacau.

Marcelo Quadros é paulistano, tem 38 anos e possui formação acadêmica em Artes Plásticas e Educação Física. É especializado na área de moda com cursos de Modelagem Industrial e Alfaiataria pelo Senai; Moulage pelo Studio Bercot de Paris e Estilo e Moulage pelo CIT (Centro Industrial Têxtil).
Sua carreira começou em 1990. Marcelo produzia peças de fitness para uma loja de departamento em São Paulo, a Mappin. A escolha por produzir peças para esse segmento foi devido à influência do curso que fazia na época (educação física).
Tempos depois, montou a marca Special K com uma sócia, a também estilista Li Camargo. Na mesma época foi à Paris fazer um curso de moda (no Studio Bercot).. Marcelo declara que começou mesmo sua carreira como stylist e iniciou seu aprendizado como autodidata. Conheceu Paulo Borges, que o convidou para participar do Phytoervas Fashion.
Decorrente a esse fato, Quadros foi chamado para trabalhar na Ellus. Ficou na empresa durante quatro anos como estilista chefe, de 1995 a 1999. Marcelo disse, em palestra que ministrou no Iguatemi Mix – Fortaleza, que “trabalhando foi como fazer uma faculdade” e que “você precisa interpretar a identidade da marca, e não a sua vontade”. Esta última declaração diz respeito às criações que fazia para a Ellus, onde explicou que o estilista que trabalha exclusivamente para uma marca deve interpretá-la e, assim, aliar a identidade da empresa à sua criatividade e seus conhecimentos, gerando um produto que agrade aos empresários e ao próprio estilista.
Ao sair da Ellus, em 1999, participou do Phytoervas Fashion, produzido por Paulo Borges. Nesse evento lançou sua primeira coleção após sua desvinculação da Ellus. A coleção tinha como tema “Sonho”. As roupas eram de luxo e tiveram um resultado comercial pequeno. Marcelo ainda estava um pouco preso à influência do designer da Ellus e isso se refletiu nesta coleção.
Lançou-se no mercado, então, como free-lance e criou a marca homônima. Prestou serviço para outras várias marcas, entre elas Daslu, Le Lis Blanc e Iódice. Marcelo começou a colocar para fora todo o seu conhecimento, explorou a silhueta feminina e trabalhou com tecidos nobres, evidenciando o luxo e a feminilidade. “A moda é um negócio”, diz.
A partir daí, participou de várias edições da Semana de Moda – Casa de Criadores com sua própria marca.
A coleção verão 2000/2001 tinha como tema “Saguão de Hotel”, onde Quadros se inspirou na imagem de mulheres fortes, chiques e decadentes que desfilam por saguões de hotéis de luxo. Com este desfile, Marcelo teve reconhecimento da mídia e do mundo fashion. Um de seus looks dessa coleção foi fotografado para a capa da revista Elle.
A coleção que veio a seguir, inverno 2001, inspirava-se e levava o nome do filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock. As roupas eram em couro, quase 100% das peças. Essa coleção lhe rendeu uma matéria na revista Speed.
Sua próxima coleção, verão 2001/2002, tinha como inspiração “Glamour e Bossa”, onde a bossa era feita para as mulheres e remetia à jovialidade. Possuía uma atmosfera bem característica dos anos oitenta e um clima carregado de mulheres sexies (bem explorado no make-up).
Neste mesmo ano, 2002, Marcelo Quadros também participou de alguns eventos no exterior: apresentou-se no Dias de Moda, no Panamá, e no Fashion Week of The Américas, em Miami, EUA.
Sua coleção de inverno 2002 utilizou o tema “Disco”. Segundo a jornalista de moda Érika Palomino, “Marcelo Quadros faz o seu melhor desfile das últimas temporadas. Cheio de energia e definindo de fato seu público-alvo, o estilista faz uma espécie de megamedley das imagens femininas de suas coleções anteriores”. Nesta coleção, Marcelo começa a utilizar bordados em seus looks. Após o desfile declarou: “Esta coleção representa o início de uma série de coisas novas e marca o começo de uma nova fase. É um momento de mudanças. Estou feliz!”.
Uma das características mais marcantes de Marcelo Quadros é a criação de roupas de luxo. Geralmente suas peças primam pela nobreza dos materiais utilizados, tanto os tecidos como os aviamentos (atualmente trabalha com cristais Swarovski, além de vidrilhos e paetês em seus bordados).
Outro fato bem característico do estilista é a sua maior fonte de inspiração: a mulher. Marcelo explora a feminilidade e a sensualidade acima de tudo, aliando esses elementos às suas criações.
Certa vez declarou que “é difícil produzir roupas de luxo; elas ficam em cima do muro, numa linha tênue. Elas possuem uma fácil tendência a serem cafonas, e uma difícil tendência a serem elegantes”. Tem que saber ter equilíbrio, bom senso.
Na coleção de verão 2002/2003 sua inspiração foi a Art Déco da Ocean Drive, em Miami. As peças apresentavam linhas próximas ao corpo, com cortes enviesados e diversos comprimentos.Tinham um ar romântico e uma extrema sensualidade. As cores utilizadas foram o amarelo cítrico, o rosa, o azul céu, o preto e o branco. Algumas peças eram bordadas com pedrarias, vidrilhos e cristais, e paetês. Um de seus looks foi fotografado para a capa da revista Estilo, tendo como modelo a apresentadora Adriane Galisteu.
Esta coleção abriu as portas para Marcelo Quadros. Devido a ela, recebeu o convite para participar do São Paulo Fashion Week seguinte, o de Inverno 2003.
Marcelo explica que “com 10 minutos de exposição na passarela do SPFW, você consegue movimentar seis meses de vendas”. “O SPFW traz três vezes mais reconhecimento do público em geral”.
A coleção que inaugurou sua estréia no SPFW tinha como tema a moda urbana, e como inspiração suas vivências, viagens e conhecimento. Era chamada de "Street Fashion Utility Couture". A coleção trazia muitas informações esportivas e streetwear, mas sem perder o glamour e a sofisticação. Isto acontecia devido aos tecidos nobres que Marcelo utilizou em suas criações. Mais uma vez uma criação Marcelo Quadros vira capa da revista Estilo juntamente com a atriz Priscila Fantin.
A partir de então, começou a fazer trabalho de alta-costura sob medida, trabalhando como designer.
A sua segunda coleção no SPFW, verão 2003/2004, não tem um tema fixo: "Não tenho uma única inspiração. Minha coleção é um mix de informações, imagens e de mulheres que eu admiro". Marcelo se inspira numa mistura de possibilidades que a mulher moderna pode usar depois das 5:00 da tarde. Esta mescla é feita de alta-costura com um universo mais esportivo. Tem momentos em que apresenta bordados riquíssimos (com cristais ou vidrilhos, canutilhos e paetês); em outros faz uma linha mais despojada. Um elemento utilizado para dar o ar esportivo e descontraído da coleção foi o zíper: "Quis desconstruir algumas peças e reconstruí-las de uma maneira diferente. E o meio que usei para isso foi o zíper".
Um destaque da coleção foi a escolha das cores e suas interações, criando uma estampa gráfica que remete às de Pucci. As cores utilizadas foram o roxo, o verde, o verde bandeira, o lilás, o salmão e o areia.
No inverno 2004, Marcelo Quadros lança o desfile “Guerrilheiras de Luxo”. Esta coleção passa a mostrar a desmistificação do luxo, fazendo o uso de peças em meia-malha produzindo um visual “high-low”. Misturou vários estilos (glamour, urbano, fashion, elegância e esportivo) e conseguiu um belo equilíbrio. O militarismo foi sua referência para fazer uma homenagem às mulheres “guerrilheiras – urbanas” de São Paulo. Os elementos utilizados para dar um ar característico em seu desfile foram botas militares, boinas e camisetas de meia-malha (para dar um ar “fresh”).
Neste desfile, Marcelo fez uma parceria com a marca de underwear AnyAny, lançando uma coleção com o seu nome. Algumas dessas peças foram utilizadas no desfile e apareciam discretamente sob as roupas.
Após sua belíssima apresentação na 16ª edição do SPFW, inverno 2004, Marcelo foi escolhido pelos organizadores do Fashion Week of the Américas para receber o prêmio de “The New Star in Fashion 2004”.
A coleção de verão 2004/2005 teve como inspiração o filme “Querelle”, do início dos anos 80. Marcelo deu um tom de glamour sem ostentação, num clima marinheiro-chic. As modelos, chamadas “marinheiras”, mostravam-se como mulheres sexy, fetichistas e abusadas. “A sensualidade é a marca do trabalho” disse Quadros. O marco do desfile foi a sua abertura, onde um modelo entrou “encarnando” Querelle.
Após esse trabalho, Marcelo recebeu um convite para ir expor em Paris, no salão Prêt-à-Porter, junto com Mário Queiroz, Lino Villaventura e André Lima. Com este trabalho, Marcelo teve uma peça sua fotografada para a capa da revista Estilo, onde a apresentadora Luciana Gimenez foi a modelo.
Ainda neste mesmo ano, depois do salão Prêt-à-Porter, Marcelo recebeu convite da marca italiana Pelleteria di Tolentino para fazer a coleção de bolsas verão 2006.
A apresentação da sua coleção de inverno 2005 foi vista no Dragão Fashion Brasil, em Fortaleza. Não participou do SPFW por causa da data, já tinha outros compromissos agendados.
A coleção de inverno 2005 é uma releitura do estilo Dior.
A marca registrada do trabalho de Marcelo Quadros é o mercado de luxo, que é caracterizado pelo requinte, sofisticação e alto valor agregado. Suas peças sempre são elaboradas com tecidos nobres: chifon, zibelina, cetim de seda pura, musselina, crepe georgete, renda, entre outros. Utiliza-se também de bordados manuais, que dão mais valor as peças.

4.10.06

.entrevista Mark Greiner.

por Aline Cacau.
O Crivo entrevistou o estilista e arquiteto cearense Mark Greiner. Pois é, ele também é arquiteto! Sim! Trabalha em um escritório de arquitetura, foi um dos responsáveis pelo projeto arquitetônico do Estilo Iguatemi 2005, já ganhou o concurso Novos Talentos do Dragão Fashion, participou da FENIT, teve peças suas na Avant Premier de Paris e sempre está presente nos eventos de moda. Para saber como aconteceu o caminho até a moda, quais são suas inspirações e como concilia as duas profissões, confira o nosso bate-papo:
Crivo – Você é arquiteto, cursou arquitetura e depois ingressou no mundo da moda. Como se deu esse caminho pra moda?
MG – Quando eu ainda tava na universidade, tomei conhecimento do curso, que até então era de extensão na UFC (o curso de estilismo). Me despertou o interesse. Eu sempre acompanhei os eventos de moda no Ceará e de alguma forma os nacionais. Quando eu terminei o curso de arquitetura, já haviam tido duas turmas de estilismo na UFC. Na época sobravam vagas, tinham umas dez vagas pra entrar no curso. Entrei como graduado na terceira turma e cursei um ano e meio. Mas aí ficou complicado, porque eu já trabalhava em um escritório de arquitetura, que se chama Luiz Fiúza Arquitetos; especificamente com a arquiteta Ione Fiúza. Ficou meio difícil conciliar porque o curso é diurno. Então eu abandonei o curso e fui trabalhar somente com arquitetura. Quando foi em 2001, eu entrei no curso do Senai. Tinha ouvido falar muito bem do curso e da estrutura. Fui lá, visitei, conheci e gostei. Cursei um ano e meio e parei. Aí comecei a participar de eventos. Participei do Dragão Fashion 2001 e 2002 como Novos Talentos, quando ganhei o concurso. Daí participei da FENIT como convidado por conta do Dragão e fui participando de vários eventos, vários concursos e foi acontecendo. Continuei desfilando no Dragão Fashion e ano passado também participei do Estilo Iguatemi, quando houve a oportunidade de trabalhar com o SEBRAE.
Crivo – O seu nome aparece no site do Dragão Fashion deste ano como Desfile Mark Greiner por SEBRAE e Desfile Mark Greiner. Essa parceria com o SEBRAE é constante ou está só ligada ao trabalho que você fez ano passado com as bordadeiras?
MG – Na verdade, a gente está dando prosseguimento àquela ação agora no Dragão, onde estamos inserindo mais um trabalho que vai ser feito junto aos tecelãos localizados em Mucambo, depois de Sobral. Então, vamos dar uma repaginada naquela coleção e estaremos apresentando justamente no Dragão, pois estamos aproveitando a temática do evento com a questão da Nobre Arte Popular (tema desta edição do Dragão Fashion). A gente vai estar na sala chamada de Sala de Barro onde tem essa conotação de conceito e de artesanal. Então, vai ser bem bacana, porque a gente vai levar esses dois trabalhos e estará fundindo os dois e apresentando na passarela na abertura do evento. Paralelo a isso, eu já vinha desenvolvendo a minha coleção para o Dragão, que já é um trabalho específico, onde a gente estará fazendo um resgate de um pouco da nossa história enquanto história de moda no Ceará. A coleção tem um tema chamado “Paixão por Moda” e faremos uma homenagem à Vânia Duma, por toda a representatividade que ela teve na área de moda. Não só como uma jornalista que criou uma revista, que profissionalizou muita gente na área, mas também como uma mulher que sempre investiu na moda e acreditou até mesmo na formação do curso de Estilismo e Moda. Existiu também aquele curso aberto que era promovido pelo próprio O Povo, que ela também patrocinou junto ao O Povo. Eram fascículos semanais que informavam e diplomavam as pessoas na área. É uma pessoa que está muito ligada à história da Moda no nosso estado, sobretudo nos anos 80. Então estamos querendo resgatar isso de uma forma bonita e eu acho que ela é uma mulher que tem um estilo e personalidade que é bacana a gente estar enaltecendo dentro da nossa história, pois sempre que falamos de moda, sempre nos voltamos para o eixo Rio – São Paulo ou Europa.
Crivo – Você acha necessário ter formação acadêmica, além de ter talento?
MG – É fundamental você ter uma formação profissional. Agora acho que é muito importante que seja revista a questão do foco como é ministrado o curso. Acho muito bacana que você possa trabalhar mais o coletivo do que o individual. Você está vendo que a gente faz um trabalho em equipe e esses profissionais que vão sair desses cursos vão trabalhar em equipes. Claro que alguns irão conseguir trabalhar sozinhos, até mesmo porque envolve muito a questão econômica, as possibilidades, mas a maioria vai realmente fazer parte de empresas e vai ter que trabalhar e saber lidar com o público, com o gosto, com o dono e com as pessoas que também fazem parte da equipe de estilo daquelas marcas. Então eu acho que o curso deveria focar muito mais no trabalho em grupo do que propriamente na formação de estilista com essa visão mais fechada e mais autoral.
Crivo – Você é arquiteto. Como está a arquitetura, hoje, na sua vida?
MG – Eu continuo trabalhando com arquitetura, com a arquiteta Ione Fiúza. São dois universos que me agradam muito e que agregam muito em termos de conhecimento e oportunidades. Eu acho que não tem muita necessidade, pelo menos no momento, de estar focando todas as minhas ações numa só área. Acho a arquitetura muito bacana enquanto designer também, apesar de que moda te possibilita criar um universo mais próximo do desejo das pessoas.
Crivo – Saiu uma matéria no site da revista Criativa com várias peças suas, sandálias, pulseiras e um vestido, muito bonito! Você sempre participa dessas produções de moda de grandes revistas? As pessoas interessadas no seu trabalho te procuram ou é você que está realmente divulgando o seu trabalho?
MG – Na verdade, até hoje, o meu foco foi estar participando de alguns eventos e a divulgação do meu trabalho tem sido mais nesse sentido. Os contratos geralmente são fechados mais nesses momentos por conta da exposição do trabalho. Eu não tenho ainda... Como posso dizer? O meu trabalho ainda é muito em regime de atelier. Trabalho muito sobre medida, sobre peças específicas. Eu não tenho um trabalho de nível tão formalizado. Assessoria de imprensa, eu não tenho. É uma coisa mais complicada.
Crivo – Qual a sua maior inspiração? O que você mais gosta de fazer, peças mais artesanais ou mais elaboradas?
MG – Eu procuro sempre fazer um trabalho que me emocione. Eu sempre procuro estar trabalhando com as minhas emoções e com o que me sensibiliza. Gosto de fazer roupa para mulheres por saber que isso te permite trabalhar com mais liberdade sobre formas, materiais e tudo mais. Não gosto de fazer roupa para meninas, gosto de fazer para mulheres e pessoas que tenham identificação com esse trabalho.
Crivo – Uma característica marcante e bem trabalhada nas suas peças é a modelagem, que é bem específica. Você faz com que o seu trabalho seja reconhecido realmente pela modelagem, textura e materiais que usa?
MG – Eu sou apaixonado por tecidos. Eu tenho compulsão, na verdade, por tecidos. Adoro! Passo hoooras comprando tecidos! Olhando e imaginando o quê que a gente pode fazer com aquilo. Eu acho que é o somatório de tudo que você consegue fazer. Tanto uma pesquisa dos materiais que a gente encontra aqui e tem acesso e como está encaixando tudo isso. As formas; que aí entra a modelagem, entra a montagem, que eu acho que todos os processos somam ao produto final. Na verdade eu não concebo um trabalho onde você defina tudo na prancheta, no desenho. Eu acho que você tem que estar agregando tudo ao seu trabalho de pesquisa junto com as pessoas que fazem parte da sua equipe. Até mesmo a questão, que eu acho que trabalhar com moda nada mais é que um grande laboratório. Por mais que você tenha noção do caimento de um tecido e às vezes você pega e imagina numa forma, ele não tem o caimento exatamente que você esperava então você tem que adaptar isso tudo e aí vai evoluindo todo o trabalho. Agora eu acho bacana você poder pensar de uma forma paralela. Eu sempre penso em cada coleção que a gente faz como um todo. Vai desde os calçados à trilha sonora e à distribuição da grade do desfile. Acho que isso é fundamental, pelo menos é a minha forma de pensar. Não sei eleger cada etapa e qual a mais importante, isso acontece no meu caso. Acho muito bacana você ter pessoas que você confie e que possa estar agregando e acrescentando ao seu trabalho e que você possa confiar na opinião delas, saber que elas estarão sendo sinceras com você. Isso é o que eu te falo de trabalhar em equipe. Há mais de quinze anos trabalho em uma equipe de uma arquiteta onde a gente pensa em conjunto. Acho que então talvez seja por isso não seja tão complicado para eu trabalhar no meio coletivo.
Crivo – Os seus acessórios são bem elaborados. Nessa elaboração de acessórios você segue a tendência da sua inspiração de acordo com as roupas ou às vezes você dá uma “quebrada” de estilo para fazer um contraponto, uma brincadeira?
MG – Não. Na verdade, assim... Por exemplo, até essa coleção que estou fazendo agora, eu comecei desenhando os calçados, do que começar a desenhar propriamente as peças. São coisas que acontecem. Eu, na verdade, adoro sapatos! Pra mim, é fundamental você pensar. Não sei fazer um trabalho onde não tenha sido tudo pensado. Eu só gosto de botar na passarela realmente o que tenha havido alguma interferência do meu trabalho. Claro que acaba que tudo é um conjunto, mesmo que você queira fazer um contraponto, eu digo de texturas de materiais, seja num calçado ou na roupa, mas o conjunto é um só. Na realidade eu não dissocio: é uma linha de calçados que eu não penso nisso isolado das outras coisas. Às vezes, até mesmo os materiais sempre interferem; tanto que você vê que geralmente nos meus sapatos sempre os tecidos estão associados também na montagem deles.
Crivo – Mark, quem tem um trabalho que você admira, e que às vezes possa lhe dar inspiração ou que você olhe e se identifique com o seu próprio trabalho?
MG – Hoje em dia não tem como não tirar o chapéu para Nicolas Ghesquière (que trabalha para a maison Balenciaga), que realmente é um nome que desponta no momento; mas tem tantos... A Miucca Prada, Stefano Pilati para Yves Saint Laurent,... Eu acho que tem muita gente que trabalha a moda feminina de uma forma muito bacana. No Brasil, eu acho que é inegável que Alexandre Herchcovitch desponta na questão criatividade e produto, e que é um nome que se renova. No nosso estado eu acho que tem gente lutando aí para fazer coisa bacana, que acabam às vezes indo até para fora, como é o caso até de Weider Silvério. Não é porque é um grande amigo meu, mas eu acho que é uma pessoa bacana que entende de moda de uma forma parecida como eu entendo, apesar de termos estilos diferentes. É uma pessoa que vai estar na semana de moda agora (Casa de Criadores – de 19 a 22 de março) e acho que vocês têm que assistir, nem que seja vendo pela internet; mas é um trabalho bem bacana. Pena que ele não vai estar aqui com a gente no Dragão.
Crivo – Você quer fazer alguma consideração final, falar mais alguma coisa sobre o seu trabalho como arquiteto e estilista?
MG – Não... Só quero que vocês vão ver o meu desfile.

1.10.06

.o nu (como pausa do vestir).

por Rachel Cordeiro.

Tão importante quanto uma pausa para o silêncio durante uma palestra, o nu também é importante para a moda. É a pausa do vestir.
O mostrar tudo, ou partes, é expressivo e dá um significado muito forte ao vestir. O erótico é essencial. O mostrar, ou induzir o pensamento ao nu cria uma valorização maior do vestir, dá uma atmosfera à parte vestida, que pode ter vários significados, variando conforme a forma, material e textura da roupa.

Um exemplo atual e maravilhoso foi no desfile do estilista Marcelo Quadros para o Dragão Fashion.
Entre garotas completamente vestidas com casacos sete oitavos de veludo à moda Vitoriana, apareceram outras vestindo uma blusa fluida, com abotoaduras nas costas e completamente transparentes.
Como as meninas estavam com roupas que cobriam todo o corpo, essas outras entraram para lembrar ao espectador que existe graça e feminilidade por baixo daquilo tudo. Ou talvez ele só quisesse mostrar peito. De uma forma ou de outra ficou fantástico e feminino a pausa do vestir na passarela.