4.10.06

.entrevista Mark Greiner.

por Aline Cacau.
O Crivo entrevistou o estilista e arquiteto cearense Mark Greiner. Pois é, ele também é arquiteto! Sim! Trabalha em um escritório de arquitetura, foi um dos responsáveis pelo projeto arquitetônico do Estilo Iguatemi 2005, já ganhou o concurso Novos Talentos do Dragão Fashion, participou da FENIT, teve peças suas na Avant Premier de Paris e sempre está presente nos eventos de moda. Para saber como aconteceu o caminho até a moda, quais são suas inspirações e como concilia as duas profissões, confira o nosso bate-papo:
Crivo – Você é arquiteto, cursou arquitetura e depois ingressou no mundo da moda. Como se deu esse caminho pra moda?
MG – Quando eu ainda tava na universidade, tomei conhecimento do curso, que até então era de extensão na UFC (o curso de estilismo). Me despertou o interesse. Eu sempre acompanhei os eventos de moda no Ceará e de alguma forma os nacionais. Quando eu terminei o curso de arquitetura, já haviam tido duas turmas de estilismo na UFC. Na época sobravam vagas, tinham umas dez vagas pra entrar no curso. Entrei como graduado na terceira turma e cursei um ano e meio. Mas aí ficou complicado, porque eu já trabalhava em um escritório de arquitetura, que se chama Luiz Fiúza Arquitetos; especificamente com a arquiteta Ione Fiúza. Ficou meio difícil conciliar porque o curso é diurno. Então eu abandonei o curso e fui trabalhar somente com arquitetura. Quando foi em 2001, eu entrei no curso do Senai. Tinha ouvido falar muito bem do curso e da estrutura. Fui lá, visitei, conheci e gostei. Cursei um ano e meio e parei. Aí comecei a participar de eventos. Participei do Dragão Fashion 2001 e 2002 como Novos Talentos, quando ganhei o concurso. Daí participei da FENIT como convidado por conta do Dragão e fui participando de vários eventos, vários concursos e foi acontecendo. Continuei desfilando no Dragão Fashion e ano passado também participei do Estilo Iguatemi, quando houve a oportunidade de trabalhar com o SEBRAE.
Crivo – O seu nome aparece no site do Dragão Fashion deste ano como Desfile Mark Greiner por SEBRAE e Desfile Mark Greiner. Essa parceria com o SEBRAE é constante ou está só ligada ao trabalho que você fez ano passado com as bordadeiras?
MG – Na verdade, a gente está dando prosseguimento àquela ação agora no Dragão, onde estamos inserindo mais um trabalho que vai ser feito junto aos tecelãos localizados em Mucambo, depois de Sobral. Então, vamos dar uma repaginada naquela coleção e estaremos apresentando justamente no Dragão, pois estamos aproveitando a temática do evento com a questão da Nobre Arte Popular (tema desta edição do Dragão Fashion). A gente vai estar na sala chamada de Sala de Barro onde tem essa conotação de conceito e de artesanal. Então, vai ser bem bacana, porque a gente vai levar esses dois trabalhos e estará fundindo os dois e apresentando na passarela na abertura do evento. Paralelo a isso, eu já vinha desenvolvendo a minha coleção para o Dragão, que já é um trabalho específico, onde a gente estará fazendo um resgate de um pouco da nossa história enquanto história de moda no Ceará. A coleção tem um tema chamado “Paixão por Moda” e faremos uma homenagem à Vânia Duma, por toda a representatividade que ela teve na área de moda. Não só como uma jornalista que criou uma revista, que profissionalizou muita gente na área, mas também como uma mulher que sempre investiu na moda e acreditou até mesmo na formação do curso de Estilismo e Moda. Existiu também aquele curso aberto que era promovido pelo próprio O Povo, que ela também patrocinou junto ao O Povo. Eram fascículos semanais que informavam e diplomavam as pessoas na área. É uma pessoa que está muito ligada à história da Moda no nosso estado, sobretudo nos anos 80. Então estamos querendo resgatar isso de uma forma bonita e eu acho que ela é uma mulher que tem um estilo e personalidade que é bacana a gente estar enaltecendo dentro da nossa história, pois sempre que falamos de moda, sempre nos voltamos para o eixo Rio – São Paulo ou Europa.
Crivo – Você acha necessário ter formação acadêmica, além de ter talento?
MG – É fundamental você ter uma formação profissional. Agora acho que é muito importante que seja revista a questão do foco como é ministrado o curso. Acho muito bacana que você possa trabalhar mais o coletivo do que o individual. Você está vendo que a gente faz um trabalho em equipe e esses profissionais que vão sair desses cursos vão trabalhar em equipes. Claro que alguns irão conseguir trabalhar sozinhos, até mesmo porque envolve muito a questão econômica, as possibilidades, mas a maioria vai realmente fazer parte de empresas e vai ter que trabalhar e saber lidar com o público, com o gosto, com o dono e com as pessoas que também fazem parte da equipe de estilo daquelas marcas. Então eu acho que o curso deveria focar muito mais no trabalho em grupo do que propriamente na formação de estilista com essa visão mais fechada e mais autoral.
Crivo – Você é arquiteto. Como está a arquitetura, hoje, na sua vida?
MG – Eu continuo trabalhando com arquitetura, com a arquiteta Ione Fiúza. São dois universos que me agradam muito e que agregam muito em termos de conhecimento e oportunidades. Eu acho que não tem muita necessidade, pelo menos no momento, de estar focando todas as minhas ações numa só área. Acho a arquitetura muito bacana enquanto designer também, apesar de que moda te possibilita criar um universo mais próximo do desejo das pessoas.
Crivo – Saiu uma matéria no site da revista Criativa com várias peças suas, sandálias, pulseiras e um vestido, muito bonito! Você sempre participa dessas produções de moda de grandes revistas? As pessoas interessadas no seu trabalho te procuram ou é você que está realmente divulgando o seu trabalho?
MG – Na verdade, até hoje, o meu foco foi estar participando de alguns eventos e a divulgação do meu trabalho tem sido mais nesse sentido. Os contratos geralmente são fechados mais nesses momentos por conta da exposição do trabalho. Eu não tenho ainda... Como posso dizer? O meu trabalho ainda é muito em regime de atelier. Trabalho muito sobre medida, sobre peças específicas. Eu não tenho um trabalho de nível tão formalizado. Assessoria de imprensa, eu não tenho. É uma coisa mais complicada.
Crivo – Qual a sua maior inspiração? O que você mais gosta de fazer, peças mais artesanais ou mais elaboradas?
MG – Eu procuro sempre fazer um trabalho que me emocione. Eu sempre procuro estar trabalhando com as minhas emoções e com o que me sensibiliza. Gosto de fazer roupa para mulheres por saber que isso te permite trabalhar com mais liberdade sobre formas, materiais e tudo mais. Não gosto de fazer roupa para meninas, gosto de fazer para mulheres e pessoas que tenham identificação com esse trabalho.
Crivo – Uma característica marcante e bem trabalhada nas suas peças é a modelagem, que é bem específica. Você faz com que o seu trabalho seja reconhecido realmente pela modelagem, textura e materiais que usa?
MG – Eu sou apaixonado por tecidos. Eu tenho compulsão, na verdade, por tecidos. Adoro! Passo hoooras comprando tecidos! Olhando e imaginando o quê que a gente pode fazer com aquilo. Eu acho que é o somatório de tudo que você consegue fazer. Tanto uma pesquisa dos materiais que a gente encontra aqui e tem acesso e como está encaixando tudo isso. As formas; que aí entra a modelagem, entra a montagem, que eu acho que todos os processos somam ao produto final. Na verdade eu não concebo um trabalho onde você defina tudo na prancheta, no desenho. Eu acho que você tem que estar agregando tudo ao seu trabalho de pesquisa junto com as pessoas que fazem parte da sua equipe. Até mesmo a questão, que eu acho que trabalhar com moda nada mais é que um grande laboratório. Por mais que você tenha noção do caimento de um tecido e às vezes você pega e imagina numa forma, ele não tem o caimento exatamente que você esperava então você tem que adaptar isso tudo e aí vai evoluindo todo o trabalho. Agora eu acho bacana você poder pensar de uma forma paralela. Eu sempre penso em cada coleção que a gente faz como um todo. Vai desde os calçados à trilha sonora e à distribuição da grade do desfile. Acho que isso é fundamental, pelo menos é a minha forma de pensar. Não sei eleger cada etapa e qual a mais importante, isso acontece no meu caso. Acho muito bacana você ter pessoas que você confie e que possa estar agregando e acrescentando ao seu trabalho e que você possa confiar na opinião delas, saber que elas estarão sendo sinceras com você. Isso é o que eu te falo de trabalhar em equipe. Há mais de quinze anos trabalho em uma equipe de uma arquiteta onde a gente pensa em conjunto. Acho que então talvez seja por isso não seja tão complicado para eu trabalhar no meio coletivo.
Crivo – Os seus acessórios são bem elaborados. Nessa elaboração de acessórios você segue a tendência da sua inspiração de acordo com as roupas ou às vezes você dá uma “quebrada” de estilo para fazer um contraponto, uma brincadeira?
MG – Não. Na verdade, assim... Por exemplo, até essa coleção que estou fazendo agora, eu comecei desenhando os calçados, do que começar a desenhar propriamente as peças. São coisas que acontecem. Eu, na verdade, adoro sapatos! Pra mim, é fundamental você pensar. Não sei fazer um trabalho onde não tenha sido tudo pensado. Eu só gosto de botar na passarela realmente o que tenha havido alguma interferência do meu trabalho. Claro que acaba que tudo é um conjunto, mesmo que você queira fazer um contraponto, eu digo de texturas de materiais, seja num calçado ou na roupa, mas o conjunto é um só. Na realidade eu não dissocio: é uma linha de calçados que eu não penso nisso isolado das outras coisas. Às vezes, até mesmo os materiais sempre interferem; tanto que você vê que geralmente nos meus sapatos sempre os tecidos estão associados também na montagem deles.
Crivo – Mark, quem tem um trabalho que você admira, e que às vezes possa lhe dar inspiração ou que você olhe e se identifique com o seu próprio trabalho?
MG – Hoje em dia não tem como não tirar o chapéu para Nicolas Ghesquière (que trabalha para a maison Balenciaga), que realmente é um nome que desponta no momento; mas tem tantos... A Miucca Prada, Stefano Pilati para Yves Saint Laurent,... Eu acho que tem muita gente que trabalha a moda feminina de uma forma muito bacana. No Brasil, eu acho que é inegável que Alexandre Herchcovitch desponta na questão criatividade e produto, e que é um nome que se renova. No nosso estado eu acho que tem gente lutando aí para fazer coisa bacana, que acabam às vezes indo até para fora, como é o caso até de Weider Silvério. Não é porque é um grande amigo meu, mas eu acho que é uma pessoa bacana que entende de moda de uma forma parecida como eu entendo, apesar de termos estilos diferentes. É uma pessoa que vai estar na semana de moda agora (Casa de Criadores – de 19 a 22 de março) e acho que vocês têm que assistir, nem que seja vendo pela internet; mas é um trabalho bem bacana. Pena que ele não vai estar aqui com a gente no Dragão.
Crivo – Você quer fazer alguma consideração final, falar mais alguma coisa sobre o seu trabalho como arquiteto e estilista?
MG – Não... Só quero que vocês vão ver o meu desfile.

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